Ruy Guerrapoesias

E tu, lua?
Ruy Guerra




E tu, lua?
E tu, Lua?
Como tens o desplante de aparecer
com teus imaculados véus de noiva,
sorridente casta
sobre esses campos do Kunene
plantados de assassinos?
E tu, lua?
Como é que finges nada ter a ver
Quando caricias sensual
esses corvos louros fardados de aço,
quizumbando sorrateiramente
nos milheirais?
E tu, lua?
Com que cara passeias teus cabelos
de vênus platinadanas tripas expostas
das mulheres homens e crianças,
que os teus amantes sangrentos do Apocalipse Now,
por prazer transformaram nos teus braços
em carnavais de sangue?
E tu, lua?
Já paraste para pensar
o que vai sair desse teu ventre,
inchado dos gritos de incautos namorados
que mergulham nos êxtases dos teus pântanos de leite,
nessas noites cúmplices em que emprestas
as tuas foices de luz
para indicar o caminhos do assassinato
aos teus amantes Boers?