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Diário de um louco: o coqueiro
Ruy Guerra




Morte, muita gente tem medo da morte, eu não, não tenho, nunca tive, nunca terei ou por outra, só terei quando ela chegar junto de mim, me disser com aquela voz que nem sonho como seja, vamos embora, chegou a hora, nesse derradeiro instante sim, nesse momento sentirei o que os outros devem sentir só de ouvir falar nela, mas só nesse instante.

As coisas para mim (não sei se também para os outros) tem no meu pensamento uma representação figurada, aliás não sei se pensamento é já por si uma representação com figuras...Se penso num determinado objeto ideal, automaticamente o imagino com uma representação material muito minha, digo muito minha porque sou uma pessoa muito original, sobretudo muito cheia de personalidade, mas voltando à vaca quente (cunho pessoal), na medida que me habituo a essa representação escapa-se, tão automaticamente como vem e fica simplesmente a idéia, comigo sucede isto, com os outros não sei e nem me interessa, sou narcisista (apesar de não encontrar narciso que é uma planta bastante simpática pelo o que eu ouço dizerem), a idéia da morte, talvez pela complexidade do assunto, lembra-me não objeto, mas uma autentica historia, isto quando associo o medo que grande numero de pessoas professam pelo “camelo preto que se ajoelha a todas as portas” no dizer dos árabes, voa-me imediatamente a imaginação, um homem a plantar um coqueiro, foi uma cena que talvez por ser típica fixei e até agora não me esqueci, a comparação em si é estúpida, estúpida como eu, não estou a ser sincero, não admira, porque sou narcisista, mas sempre é bonito por uma frase assim: “é chique”.Continuando, estúpida como eu (hahahaha), mas apesar de o ser vou contar ao meu vasto auditório: -o papel branco, o melhor auditório possível, não aplaude...mas nunca papeia e ouve sempre em silencio e sem gracinhas, (os que escrevem a tinta ainda estão sujeitos a piadinha dum borrão, mas eu... não) até rima.

Havia um sujeito chamado Macropole (não sei porque se chamava assim), muito engraçado, vestia... num sei o que vestia, embora o veja com máxima nitidez possível, não o vejo vestido, nem nu, simplesmente o vejo. Depois o Senhor Macropole estava sentado no chão com uma pá sobre os joelhos (uma pá pequena de jardim, embora eu ache que uma pá daquelas dimensões é quase inútil e a queira tornar de tamanho normal, na minha mente é totalmente impossível, a pá não quer, não cresce nem pela lei da bala, continua a ser de jardim, pelos vistos acha mais fino...) ao pé do senhor está um coqueiro enorme com cocos e macacos, por plantar, as enormes raízes de fora e o senhor Macropole sentado, parado, sem fazer nada, passou um sujeito, olha, vê, continua, decorrido um grande pedaço torna a passar e o senhor Macropole na mesma, e o coqueiro a espera de ser plantado. Então, o tal sujeito passava de um lado pra outro e pergunta ao Senhor Macropole se ele não resolve a enterrar o coqueiro, o senhor Macropole responde quieto como sempre que é para escutar o horizonte, estou a espera que o Malaquias me venha ajudar e aonde que está o Malaquias? Que não vem cumprir o combinado? Quem é ele? quando ele chega? Ah, responde o senhor Macropole, o Malaquias eu não sei onde está, não sei quem é, pode estar aqui mesmo ao pé de mim ou noutro planeta qualquer, isto eu não sei, eu não combinei com ele plantar o coqueiro, por isso não faço idéia de quando chega, só sei que há de chegar.

Os que contam a morte lembram-me o senhor Macropole, à espera quem saber quem é, como e quando virá, não para enterrar as raízes do coqueiro, mas para serem eles próprios enterrados. Pobre senhores Macropoles não se incomodem com o Malaquias, porque como Caim fez com o dedo à pergunta de Paulo, sabes onde é a minha casa? Malaquias responderá, não te incomode, eu baterei a sua porta.

Rui Guerra

P.S. - Se eu sou uma pessoa tão cheia de personalidade como me prezo, porque será que tudo que escrevo alguém anteriormente o fez? RG