Ruy Guerraprefácios

Texto para para o livro “RIO DOS BONS SINAIS” de Nelson Saúte
Ruy Guerra




A terra moçambicana é uma terra de imbondeiros gigantes , de troncos torcidos, a arvore mais horrorosamente bela para quem olha o horizonte torto `a sombra da sua ausência de folhas - como o faz Nelson Saúte neste Rio dos Bons Sinais

Este é um livro de ausências.

Sem grandes gestos, grandes batalhas, grandes epopeias, sem grandiloquências ou arroubos filosóficos. As grandes aventuras estão no quintal da nossa casa, raramente nos horizontes exóticos e são os nossos olhos gulosos buscando o infinito que nos levam para o vazio dos gestos heroicos.

Os personagens soltos deste árido rio, ainda assim de bons sinais, caminham no dia-a-dia que nos chega amarelado, quem sabe pelo sol, pelo pó, talvez mais pelo tempo vivido e a viver

Personagens simples ( não confundir com humildade!) amarrados entre si pela ancestralidade, pela memória ,por um futuro turvo , trazidos até nós por palavras sem pressa , coladas ao corpo, mais bem à sua sombra ( ou a sua ausência) como na terra dos homens sem sombra.

Fato e metáfora, metáfora e fato, dúbias na anterioridade como se deve no campo do imaginário; claras, como o olhar de Saúte sobre a paisagem que narra (e nisso estão os homens), com palavras que se entrechocam , carambolam , signos de culturas distantes, historicamente enclausuradas na mesma vivencia.

E obsessiva – enterro após enterro, e mais e mais um e ainda outro – constante, vagarosa, quase preguiçosa, sem fazer espetáculo de si mesma, a morte. Como fato da vida, pronta, diria amiga. Com quem, de viés, se dialoga e nos ajuda a compreender o que somos.

Não cabe nestas curtas linhas, falar da emoção de um leitor suspeito.

Reminiscências, cheiros, deslumbramentos esquecidos da minha infância, esmagados por distancias? Um mundo, dentro e fora de mim, perdido no meu distraimento?

Mais.

RIO DOS BONS SINAIS é o encontro com Eufrigino dos ídolos, homem do luto perpétuo, vovó Mafaduco, a menina dos Prazos, viúva imaculada, e outras gentes, de outras terras, outar maneira de juntar as mesmas palavras, outro mar.

Mas logo alguém da família, por uma triste história de amor, quem sabe um simples silêncio.

Ou por um insólito guarda–chuva amarelo.