Queria ser poeta ou escritor para cantar a vida,
não a falsa vida dos salões de baile, do luxo, da riqueza,
nem é a da minha alma em sobressalto,
porque uma vida, nem vida é, e a outra a mais ninguém interessa do que a mim.
Queria cantar a vida dura dos que trabalham pelo pão de cada dia,
a vida dos sem lar, dos sem pão, dos sem conforto, a vida da pobreza e da miséria.
Queria cantar essa Vida.
Queria que esse canto mostrasse aos que a fingem ignorar
os seus trabalhos, lutas, anseios e tristeza,
fazer sofrer pelo pensamento aos que não a querem ver, o que aos outros marca a carne também,
que lado heróico da dor, revolta, desespero, esperança,
mas eu não sou poeta, nem escritor.
Não sei gravar no papel virgem os sentimentos, por vezes fatalista, dessa gente;
não sei se iria sentir talvez aquilo que eles sentem, oh, não sei não,
mas se soubesse esse hino seria belo como nenhum outro,
mas não seria meu, seria deles todos
As suas vozes seguras espalhadas aos quatro ventos,
mas unidas nesse canto de resgate, de vida a apodrecer em vida.
Eu tinha sido um porta voz apenas,
mas podia então viver que já vivia, pude então morrer que não morria,
era poeta, escritor e mais ainda tinha liberto a Vida.