Para ler, sem dar muita importância
Sou um homem de muitos amôres
Que é a maneira mais alegre que encontro
Para dizer que não tenho nenhum.
Sou um homem de tantas esperanças
E isto é o modo mais desesperado de falar
Que a minha se perdeu
Sou um homem de tristeza e alegria gastas
E isso é viver sem saber para onde e para quê.
Sou um homem sem mão nem arma para o suicídio
E dizendo isto confesso que a morte é o meu diálogo
Sou um homem que não ama mais o mar, o fogo, nem a madrugada
E assim ficam todos cientes de quanto valho nada.
Sou um homem pedindo um assassino bom
Por que na vida, tudo e só o que me assusta é a dor da carne.
Sou um homem que anda, corre, cospe, para
Sempre na multidão e mergulhado em sons
E agora todo mundo sabe o quanto eu estou solitário
Sou um homem que sente nas veias o sangue
Nos dedos o tremor, nos olhos o brilho, na pele o arrepio
E ninguém diga depois que não disse
Quanto o meu corpo é demais.
Sou um homem com um espasmo que nasce do estômago
E dá um gosto sem nexo à saliva e às palavras
Sejam elas quais forem. Aquelas e as outras.
Sou ainda um homem, porque escrevo e falo
Mas para quem a poesia chegou na idade adulta
Que é o jeito mais amargo de chegar, porque crispada e agressiva
Sou um homem sem saudades
Nem de família, nem de horas, nem de apetites, nem de você
Que devemesmo assim , ser o que de mais forte ainda vive em mim
Por que te lembro em quase cada instante.