Não quero compromissos com as palavras e os seus sons
E se distribuo em linhas irregulares o meu dizer
Não vejo nisso versos
Mesmo se a rima insiste
Não chamem de poesia o que escutarem
Ainda que minha fala, por vício de forma e cultura,
Pelo impossível de ser inteiro dentro do sentimento
E da razão
Traga sabores de outras palestras
De poetas oficializados
Não quero este uniforme
Não quero essa imortalidade
Não por desprezo ou falsa ambição mas apenas
No medo convicto e construído também
Que mais uma carapaça sedimente sobre as minhas outras carapaças
E me descubra cada vez mais mole, difuso, róseo e plasmático
Que nunca
Eu, pobre de mim, que nos meus sonhos falados
Só aspiro ao diálogo das baionetas
Mas isso é outra conversa
Agora, com a força de quem vai morrer
E na escassez do tempo que pede às palavras o seu último significado
Apenas mais uma vez isto.
O meu imenso orgulho de homem não tem mais segundos de bate-papo
E na sua eminência de ser à beira do destruído
Procura um significado mais total que o poeta pode aspirar
Um poeta que acredita de vez na força da poesia
Como um instrumento de transformação do homem
Ele e os outros
Breve, um verdadeiro poeta
Não eu, que renego a vestimenta
E nos caminhos da verdade sou um aprendiz
Tanto mais aluno, que certo de ler na minha palma da mão
Certezas que fazem de mim um homem
E destas convicções sem mácula
A minha angustia de usar palavras
De não ser na guerra nem o gesto
Nem o som
Nem o silêncio
Mas a ausência
Pudesse ter eu coragem de fazer das minhas tripas o abominável
Instante de um quadro de luta