Ruy Guerrapoesias

Prólogo, como um epitáfio
Ruy Guerra




Não quero compromissos com as palavras e os seus sons

E se distribuo em linhas irregulares o meu dizer

Não vejo nisso versos

Mesmo se a rima insiste

Não chamem de poesia o que escutarem

Ainda que minha fala, por vício de forma e cultura,

Pelo impossível de ser inteiro dentro do sentimento

E da razão

Traga sabores de outras palestras

De poetas oficializados


Não quero este uniforme

Não quero essa imortalidade

Não por desprezo ou falsa ambição mas apenas

No medo convicto e construído também

Que mais uma carapaça sedimente sobre as minhas outras carapaças

E me descubra cada vez mais mole, difuso, róseo e plasmático

Que nunca

Eu, pobre de mim, que nos meus sonhos falados

Só aspiro ao diálogo das baionetas

Mas isso é outra conversa

Agora, com a força de quem vai morrer

E na escassez do tempo que pede às palavras o seu último significado

Apenas mais uma vez isto.


O meu imenso orgulho de homem não tem mais segundos de bate-papo

E na sua eminência de ser à beira do destruído

Procura um significado mais total que o poeta pode aspirar

Um poeta que acredita de vez na força da poesia

Como um instrumento de transformação do homem

Ele e os outros

Breve, um verdadeiro poeta

Não eu, que renego a vestimenta

E nos caminhos da verdade sou um aprendiz

Tanto mais aluno, que certo de ler na minha palma da mão

Certezas que fazem de mim um homem


E destas convicções sem mácula

A minha angustia de usar palavras

De não ser na guerra nem o gesto

Nem o som

Nem o silêncio

Mas a ausência


Pudesse ter eu coragem de fazer das minhas tripas o abominável

Instante de um quadro de luta